A Instrução Geral do Missal Romano nos diz: “Conforme uso sagrado, a veneração do altar e do Evangeliário é feita pelo ósculo (beijo)” (IGMR, 273).

Notaram que o beijo é dado no altar e no Evangeliário. Por que já falamos disso uma vez. “A Missa consta, por assim dizer, de DUAS PARTES, a saber, a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, tão intimamente unidas entre si, que constituem um só ato de culto” (IGMR, 28; Dei Verbum, 21).

O Evangeliário representa a Liturgia da Palavra, a Mesa da Palavra; enquanto o altar representa a Liturgia Eucarística. O beijo une estas duas partes, estas duas mesas para ser um ato só de culto.

A Instrução Geral do Missal Romano nos diz que o sacerdote e o diácono beijam o altar “no início da celebração” (IGMR, 49; 123; 173…) e “no final da celebração” (IGMR, 90; 169; 186). Notem bem que só beijam o altar quem recebeu o Sacramento da Ordem: diácono, padre, bispo. Os leigos não beijam o altar. Quando é feita uma Celebração da Palavra com Ministros Leigos, estes NÃO beijam o altar.

O beijo é, verdadeiramente, um dos gestos mais universalmente utilizados em nossa via social. Na liturgia tem um “sinal de veneração” (IGMR, 273).

Expressa, simbolicamente, o apreço que se tem pela “Mesa do Senhor”, a mesa em que a Eucaristia irá se realizar e onde vamos ser convidados a participar do Corpo e Sangue do Senhor. É como uma saudação simbólica, feita de fé e de respeito, ao começar a celebração.
O sacerdote, o diácono apoiam ambas as mãos sobre o altar, como que num abraço a Cristo e vagarosamente deposita ali o beijo.
O altar é um lugar elevado, feito de madeira, de pedra ou metal, fixo ou móvel. Sobre ele apresenta-se a Deus Pai o memorial do Corpo e Sangue de seu Filho Jesus. Além de significar o lugar (ara) do sacrifício, também simboliza a mesa da refeição, porque a Eucaristia foi instituída durante uma ceia, em torno da mesa.

A pedra do altar faz-nos lembrar o próprio Cristo, aquela pedra que “os construtores rejeitaram, mas que tornou-se a pedra angular” (Sl 18,2; Mt 21,42; At 4,11), rocha espiritual.

No Prefácio da Páscoa nos rezamos: “Pela oblação de seu corpo, pregado na Cruz, levou à plenitude os sacrifícios antigos. Confiante, entregou em vossas mãos seu espírito, cumprindo inteiramente vossa santa vontade, revelando-se, ao mesmo tempo, sacerdote, ALTAR e cordeiro”.

O beijo é expressão de carinho e amor. É o toque mais intenso que podemos nos ofertar, mutuamente. Neste beijo, que é um gesto extremamente significativo, o sacerdote toca em Cristo para assimilar sua força e seu amor. Isso quer dizer que não é ele pessoalmente que celebra a Eucaristia, mas que a faz apenas, a partir da força e do amor de Cristo.
Expressa sua relação íntima com o Senhor, pois é em nome Dele que irá presidir a Eucaristia – “In persona Christis capitis” – na pessoa do Cristo-Cabeça (Catecismo da Igreja Católica, 1548). É uma respiração da atmosfera divina, um beber da fonte da vida.
Tem que ser um gesto realmente mistagógico, que nos leva para dentro do mistério celebrado.

Podemos ainda dizer que, como o altar simboliza o Cristo e o presidente o beija em nome da comunidade reunida, é um beijo de saudação e de amor entre o Esposo (Cristo) e a Esposa (Igreja – comunidade reunida).
O beijo que o padre dá no altar tem que ser carregado de toda esta mistagogia e que a comunidade se sinta beijada naquele momento.

Você se sente beijado(a) quando o padre beija o altar?

Por isso nossa liturgia é rica em sinais mistagógicos, ou seja, que nos levam para dentro do mistério celebrado. Você já imaginou que um simples “gesto litúrgico” do beijo do altar poderia conter todo este rico sentido teológico e litúrgico?

Pe. Ocimar Francatto